Pedaço de hoje
Vamos ao levante do assunto, porque de ideia, hoje, ando cheio da cabeça e da cabaça. E derramado pelas orelhas na escuta dessa vida, eh!
Tenho escrito tão pouco com minhas mãos, em lisura de papel real, sendo borrado na tinta contínua, que até garoto de “pré” me alcançaria, se com ele apostasse corrida de escrita... daí, que minha desprática com as coisas da manuscritação, anda de vento em lugar dela mesma, toda fora do meu viver normal de ser. Hoje, agora neste tempo passando em nós, diante destes aquis em si, só sabemos do infinito espaço do computador em brancura intensa e luminosa de dar enjôo tomando conta de nossos digitais membros dos apontamentos. Assim, vamos ficando longe do real branco do papel, do escuro da tinta que nos suja, e isso tem me incomodado. E nada sei, se no futuro haverá mão sobrada num lápis, num apontador, destirando madeira para o grafite do preto encher branco em linha do pensamento traduzido de instantes...
Em tempo, me acudindo no explico: oh, isso periga virar saudade antes da hora, virar choro antes da dor, virar água antes da chuva. Coitado de nós nessa realidade manuseada no escuro do branco das telas... Ai, ai, ai, minha dor, minha chuva, meu beco! Ah, eu quero ser um guardador das esquinas da modernidade, trancafiando um pedaço do presente, paralisando-o com meu cadeado num saco de plástico, indestrutível...
Ah, eu quero o presente, mesmo se for passado, dobrado de anteontem, Oxa!
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
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