O nosso choro por nós
Sendo bastante franco, verdadeiro, puro, no meu estado maior de minha brutalidade humana, hoje faço uma pequena e insignificante reflexão sobre a morte. A quem por ela possa ou não se interessar.
Li ou ouvi de boca de alguém, não estou nada seguro da fonte, todavia diz do mais ou menos o assim: não choramos pelo morto e sim por nós, por saber que ali, naquele igualmente que parte desta, está a aspereza da terra também à nossa espera, seja que seja qual dia for, é o certo, o exato, o absoluto.
- Então meus chorados até hoje foram um embuste?
- Sinto muito, prezado Eu, mas choraste apenas por ti.
Esse lembrado da vida em relevo funéreo, chega ser mais ainda, mais cruel, cruel por saber que vamos só; e nem o Ser mais apaixonado por nossa estimadíssima persona poderá conosco dormir naqueles lás silenciosos do estranho reino de além. Mesmo porque, naquela roupa estranha de madeira, vulgo, dito, chamado caixão só cabe um. Não se usa fazer pra mais, mesmo se dois amáveis amantes morrerem juntos em tragédia das comuns. Dois, não, nunca. Só.
Ela vai te comer.
Não, meu caro leitor, não se assuste, é tudo ficção. Vamos continuar nosso choro.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
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