O osso do negócio
Um amigo de amigo meu, um que nem preciso dizer de nome, porque nome nunca diz muito nessas horas, creio... Pedro, Paulo, João, José, só para citar nomes que sempre estão na mesa dos comuns, com Deus, no absoluto ou não – Mas do dito fiel do terceiro que disse ser de time daqui, deste coração psicografador do louco que o guia nas trevas do silêncio, em chama e em abundância, nessa via de duplos (uma que vai, outra que não volta, às vezes).
Assim, o tal desse amigo do amigo do amigo do amigo diz do seu negócio de transportar mudanças... E quando soube lembrei logo do Mosca, uma transportadora do bairro Bexiga (ainda deve existir aqui em São Paulo), que puxava muito cenário e afins, no meu tempo de produtor. Nunca naqueles lás dos anos noventa parei pra destroçar a bizarrice do nome... As coisas dos coisas e coisa tem tudo explicado no minguado ou no graúdo do seu eixo, nem venha! Vida por mais besta que for, ou seja, que será, tem, tem por quê na razão (em dobrado até). Imagine... Imaginemos. Como dizia no primeiro tempo - daqui deste desencadeado texto - a Transportadora Joca, sim, este é o nome grafado em branco no baú todo preto. E como dito o disse meu, antes disto, sabes, nada nesta vida é mesmo no gratuito - nem as semelhanças. Ah, sim, e juro palmo a palmo, dos pés à cabeça que invenção tão cruel não teria competência no meu imaginar.
Transportadora Joca, que se bem pensar, o caro próximo do próximo, do próximo do meu próximo - pra não incorrer na chatice da repetição daquele substantivo puxador do assuntocaso (junto mesmo) em questão. Sim, o digno trabalhador honesto, Joca, do ramo dos pneus na estrada, naquela sexta ficou em pânico quando teve que se defender da grávida irada, com mais um no colo, ensandecida, tentando defender os seus pertences do despejo de Reintegração de Posse. Os outros, uns quaisquer da cena em volta, dentro do caso posto, não tiveram coragem de dissuadir a doida da barriga, com o outro berrando de medo nos seus braços tensos, atacando o modesto Joca que apenas cumpria a ordem dos mandos (os cabeça-secas, pernas abertas no descanso da ordem profissional, observavam a fita no desenrolo...). Ufa, o motorista e proprietário da Transportadora, no mal das pernas num de repente, nos seus quase dois metros de ossos e músculos bambeou no osso, tremeu. E em segundos, virou um onzedesetembro, sei lá - sem par, e descumpriu-se, desintegrou-se no solo, onde a gravidade o colocou olhando o céu e o sol.
O corre-corre dos quens da justiça e outros assemelhados em volta, sem vacilo nos mais, intervieram, e em nome do bem e do estar, fizeram-se os termos dos bons. E aqueles, os destrambelhados sem ordem, desembolsaram-se dali pra rua. No definitivo.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário