Coisa de doido - vão dizer
Semana passada, antes do natal, acho, passei pela Rua São Caetano (chamada rua das noivas, em São Paulo, pra quem desconhece), ia lá pra bandas da Rua Cantareira e coisa e tal, buscar uns breguetes (como dizia uma minha namorada do interior, de muitos idos) pra incrementar minha passagem no feriado, já que adoro viver cruzando cozinha e, lá botar minhas mãos, todo o tempo, em não só nas massas. Pois que o pois das coisas são assim como a gente vê mesmo. E contar, depois, por mais que se fie no contador alguém sempre bota o olho na obliqüidade e pensa outra coisa. Todavia, arrisco, alguém precisa contar.
Estou no meu destino, vibrando nos brancos das vitrinas de manequins noivísticos, olhando, olhando aqueles eles de vãos das coisas ali nos seus indos... As lojas, umas dez da manhã, estão até meio vazias - porque até acho que casamento em dezembro é pra poucos, pois ninguém quer saber de gastar véus com isso numa ocasião tão abundante de festas. Aqueles que se arriscam podem passar vexame, imagino, por falta de público, mesmo sabendo da gratuidade do ingresso num empreendimento desses. Opa.
Vai vendo. Também vou.
Tudo é de repente... E assim, bem de, na minha frente um sujeito celerado, corta o caminho, faz uma curva apertada com o corpo, “derrapa”, sob sons de sua boca imitando um carro (como aqueles sons de crianças quando imitam o barulho dos automóveis, quando brincam) e entra na loja que se vê logo no seu caminho, e tasca pra vendedora na porta:
- Quero casar, quero casar, quero casar, quero casar... ( e vai entrando ali, e não parava de dizer isso, sempre).
Ficou lá repetindo isso, insistentemente, pra moça da loja, que constrangida, ria até, sem saber o que dizer àquele pretendente. O doido do doido, deixava bem claro, no seu dizer com gestos e corpo, que não era a garota (aquela vendedora) o seu alvo, vamos dizer, mas sim, qualquer outra (assim, no vácuo das coisas, sem mirar ninguém); e dizia, em movimentos quase circulares, repetia, repetia, mirando um vazio distante na sua própria roda do destino, num horizonte tão incerto de quê.
Daí, diante daquela peleja e pelejado, o ajuntamento de povo em gritas e assobios, e os eticéteras mais de curiosos; os engraçadinhos, os piadistas; os coisas e tais e uns tantos quens sem fim de olhares e pilhérias, que a loja foi ficando apertada de gente. A rua, já bloqueada, o buzinaço (porque os donos de veículos adoram apertar buzina), as moças das outras lojas, todas rindo, rindo, gargalhando, gargalhando....
Ah, chegaram os quens de seguranças particulares das vizinhas, e logo a PM no maior cantamento de pneus, como se ali a ocorrência fosse das mais graves, das mais tais de cruéis. E da viatura, um policial, até um pouco obeso, desajeitado, desceu já com um fuzil.
Quando o PM viu o quiprocó lingüístico daquele corpo desparafusado, ensimesmado, esfarelado da alma, abaixou a arma e o abraçou bruscamente, tirando-o dali. Claro, todo mundo pensou bobagem, mas o mandado da lei não teve alternativa.
Sinais dos tempos. Os novos.
Fora de órbita
E falando nisso, em tempo, aqui vai: sinta-se você que me lê em palavra, sempre ou não, ou que seja sua, esta, a primeira vez, sinta-se apertado no meu abraço sincero; e que um ótimo, pleno, cheio, derramado ano de alegria e saúde te espere em 2011; o que se aproxima. Beijos, que fui.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
3 comentários:
Ai... que delíciaaaaaaa!!!!!Palavra esparramada essa. De segunda, a data. De primeira, o mérito.
Ufa.
Muitas segundas nesse tempo que por ali entra.
Georgeta
ô, Georgeta,
Valeu, valeu! Graças a esses olhares especiais que continuo aqui, teimando com isso... =(.
Bj daqui
Ah, delícia mesmo. Gostei demais, escorrega nos olhos.
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