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23 de mai. de 2011

Ele não usava Black- Tie

"Depois eu te mando uma foto
da primeira vez que vi o mar de perto
Estou sensacional"



Eu disse o tal poema com brilho nos olhos e muita saliva nervosa, sendo assistido, ouvido por Gianfrancesco, que me olhava impávido, terno, em olhares vindo da minguada plateia, num teatrinho de beco, digamos assim, na Rua 13 de Maio, no Bexiga. O ano devia ser 1992, talvez.

O por acaso da ilustre presença, que me viu no ver o falar de um poema que dizia do mar, do meu deslumbrar com tantas águas num Atlântico estacionado na Urca, numa bela tarde de Rio de Janeiro, foi coisa de acidente. Eu não tive pernas depois para lhe abraçar como devia, e apenas um apertinho de mão, de coração trêmulo foi de mim a reação. Gianfrancesco era e seria um Guarnieri e tanto ali na minha frente, sem Black- tie, despido da película da fama...

Para quebrar a minha embriaguês, involuntária, uma jovem muito bonita, namorada de um dos seus filhos (não lembro de qual deles), desceu ao palco (a plateia ficava num cimo) e beijou –me a mão, dizendo-se emocionada.

A noite ganha... e perdida ali mesmo num vácuo, sob um orgulho e uma timidez implacáveis que me levavam novamente ao anonimato da minha poesia, da minha carranca travada na cria da vida. E fiquei com aquele abraço grudado em mim, pra sempre, sem entregar a quem de fato seria: um artista genial e simples, tão simples que me ouviu calmamente, e humilde me aplaudiu de pé, como os outros mortais daquela noite, num teatrinho de beco do Bexiga. Na cidade de São Paulo.

Um comentário:

Georgeta disse...

Perdi São Paulo. Não essa para onde vou ainda, mais vezes do que gostaria e menos do que deveria. Meu amigo Luiz Pinheiro do blog Decompor ainda me traz esse gosto de Bexiga, de boteco, da calçada suja. Perdi a Praça Roosevelt, o Ferro's bar, o Gigetto, o Redondo. Depois, muito depois de tudo já guardado em pastas que meticulosamente arrumo ns minhs traiçoira e protetora memória, perdi o Belas Artes. Passei lá pelo tunel outro dia. É um sebo. Ja vomitei muito lá. Livros de esquerda. Tenho saudade do teatro, de ouvir a Irene Ravache gritar... - Nunca mais pago essa fraude chamada Previdencia, em os Filhos de Kennedy.
Eu paguei. Estou aposentada. Agora posso ser louca à vontade e não preciso mais dizer o endereço comercial.

São Paulo, São Paulo, Brazil

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