Cabo Quintino, além do ofício
Havia na minha terra, no tempo em que eu adolescia da dor de se ir ao mundo, um senhor que fazia parte dos quadros da polícia militar, um cabo, que no máximo prendia vez ou outra algum bêbado chato que atormentava a vida de outros que bebiam, mas não babavam nem ameaçavam a modorra das ruas. Num tempo (nos anos setenta) em que esses agentes da ordem pública toda, andavam mesmo a serviços outros que não eram bem os da Justiça como hoje conhecemos...
Eu já o conheci cabo, logo, nunca o vi soldado que fosse. Um homem extremamente educado, por mais que o seu ofício lhe impusesse o contrário (disto não me esqueço), mesmo na iminência de alguma prisão. Vizinho de porta que era da nossa família, na Rua Cel. João Evangelista dos Anjos e não sei mais o quê, travei certa amizade com o Cabo Quintino, e vez ou outra trocávamos gibis e uns livrinhos de faroeste...
Cabo Quintino, num dia qualquer, do alto da sua estatura esguia e negra, polidamente, fez um comentário extra (o que lhe era raro), pois somente se dirigia a mim com duas ou três palavras em relação ao nosso escambo, nada mais:
- Já ouviu falar de Machado de Assis? – diante da minha negativa: - por que você não o lê?
Não lembro o desfecho da conversa...Passado um tempo me mudei da cidade, e com isso nunca mais soube desse homem ímpar, inigualável, gentil e humano, mesmo quando cumpria o seu estranho ofício de prender- se é que é possível um policial, dessa ordem.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
Um comentário:
Não sei se por influencia do Cabo Quintino ou não, mas tenho certeza que de Machado foram Anteros, Quentais, Anjos, Andrades, Meireles, Maiakovis, Lispectors, eteceteras...
Cabo Quintino consegui te prender...
beijos enormes
te amando sempre, mesmo voce distante
Luisa
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