Páginas

20 de abr. de 2009

O eu do cachorro do senhor Sócrates


Os pombos brancos que fecundam como ratos voadores nos por-alis daqueles viadutos-veias-estouradas, ave, viram, viram tudo. E nos entres e nos depois, apenas continuaram rastejando-se baixamente, entre os uns e os outros dos atos de coisas.

Sonho ou pesadelo, no aonde termina um e no aonde começa o outro? E eu que sei com isso no grosso calibre disso, sô?! Sou é o cachorro do sonho, escarrado num pesadelo, ou num sonhado, juntamente com o um senhor que se atendia por nome de Sócrates, e nunca proferia palavras naquilo que fosse ou não. Todavia, mudo de língua não era.

O seu comunicar com os olhos dos outros moradores de rua, era o escrever ao chão, em recados por uma vareta em letras tortuosas, mas certas, no batido das pisadas dos invasores da grama da praça; dos que nos por alis se refaziam em caminhadas matinais, ou tardiais...

- Vem cá, Lelé, vem!

Não, o senhor Sócrates não dizia nada assim, apenas estalava os dedos e eu (no caso) entendia em ós e borós todos os cós.

(Porque achar que um cachorro saberia ler, já seria demais. Nem em sonhado mundo que estava mesmo o meu eu de ego em aqui, jamais faria leitor, bobo que fosse um meu, querer ler disso, pois, ora, nunca!)

Um feio dia tal, a minha fuça de animado canino, de rabo enrolado de alegria, abanando para o tal do meu dono nesse campo de sonhares, justamente quando homens de preto e vermelho, e de roupas outras, tantas cores, juntas que nem consigo gravar, interromperam os estalares de dedos do senhor meu senhor...

O senhor Sócrates, um peregrino homem sem cor nenhuma olhava no debaixo para o acima das cores de indumentárias dos enfileirados-coisas de pernas abertas, uns dez ou mais de dúzia, que vieram e pisaram o forte do asfalto, e carros todos parados em torno, pescoços esguios, caras, bocas olhando-se entre gente mais curiosa do que penosa; estes mesmos quens então miraram o rebrilho de suas armadas, sem almas, metralhas e disseram ao senhor Sócrates, o que nem me fez acordar do cachorro que era naquele instante de sonho ou pesadelo... Virei o focinho ensanguentado de ver e deixei o local, embrenhando debaixo de um oco de concreto do viaduto e de lá, enrodilhado besta, fiquei no olhando do corpo o meu senhor, endurecendo, esverdeando sob as armas de uns quens que nunca havia pensado que existissem nessa vida (se é que cachorro acha coisa com coisa).

Acordei, acordei, acordei e não era o cachorro, aquele, mais do sonho, e sim o homem em mim, cru dessa vida, mas assaz importantemente mesmo homem, em cabeça e corpo. Tanto quanto aquele senhor Sócrates do sonho ou pesadelo, na 14 Biz, ou tanto quanto o meu lado acordado, em gente, podia pensar, sentir e ver.

Nenhum comentário:

São Paulo, São Paulo, Brazil

Seguidores

Visitas