- Estou velho comigo na barriga da minha cabeça, senhor?
- Sim e não, meu caro.
- Não estou a entender da sua fala em juventude desfeita para os meus anos de cabeça, meu senhor.
- Muito fácil, meu caro, o que está se passando por sua cabeça neste nó de exato momento é coisa estranha para os mins dos que curtem boas coisas novas, claro.
- Nada não, senhor, só quero um pouco do passado aqui...
Nisso o meu olhando por agora na cara de pessoa por pessoa, rosto por rosto, neste meu tempo, de perto a perto, muito, intensamente aproximado, close no close e, muito, muito, muito lentamente, menina minha espremendo as meninas dos olhos dos outros e quase afogando-as com meu respirar... Quero os algos de outros anos das pessoas, nelas por elas, que são pra mim alegres em vida, sempre. Elas dançam, cantam juntas com os caras – Odair e depois, o Wanderlei. Estamos na Virada Cultural, no Largo do Arouche, duas e pouco da tarde deste domingo e isto aqui não é uma reportagem, não.
Mas o meu querer de vivo, no aqui da minha frente, no instante do sol posto, estendido é tão somente o ó de meu exemplar de uma voz desgovernada das coisas (em mim, no piamente artístico do cultural), tremendamente cabeçudas, não mais submetidas ao meu querido e afável amo e refinado sabor pessoal, em voz escrita comigo, aí em cima no logo do início disso...
- Assuma-te, cuida-te, querer de uma figa! Entrega-te aos sabores da orgia dos banquetes nostálgicos da ralé. Eles, os do povo, e o de você contigo na botija comendo e bebendo nisso, agora sem a censura do teu querer-melhor-saber, oh, senhor teu Ser que o domina (às vezes de tão parecido saber, um obtuso senhor), renda-te!
O velho, ah, o velho Odair José, ah, e o velho Wanderlei Cardoso, dois caras, dois dos exemplares do meu convívio lá em Minas de tantos longos parques de diversões, já me esperavam... Não, mui respeitosamente assumi meu lugar na platéia no pleno do Largo do Arouche , sem nenhum parque de diversões, e sem culpa nem vergonha na cara do meu ser, me postei nos por alis com o público e banqueteei fartamente com os eles todos...
Enfim, o meu outro, o do lado oposto, e do lado mesmo, carrancudo ficou a me espiar no alegre da vida, na lembrança, na serenidade, sem receio que fosse de ser pego por comuns do meu emburrado ser, o outro. Afinal, me entreguei a essa orgia festiva, circense e perecível de minh’alma.
E o banquete era de graça, respeitável.
PS: passei depois, rapidamente, pela Praça da República, também com ótima programação musical, mas intransitável, pelo acúmulo de lixo de toda sorte (azar mesmo). Não saberia dizer quem é pior, se a organização do evento, no caso a Prefeitura de São Paulo, por não zelar do que ela mesmo proporcionou, ou se de algumas pessoas que ainda não entenderam o que é a tal de civilização. E paro por aqui.
Fora da órbita
Quem , que ator, que artista desse tempo, ou mesmo militantes políticos de toda sorte, não ouviu falar de Augusta Boal, ou mesmo não leu um de seus livros, e teve contato com suas idéias? Pra mim, é uma espécie de Paulo Freire do teatro. Assim, aqui nestas poucas e destroçadas linhas, minha modesta homenagem e lembrança a ele que nos deixou no último dia 2 de maio. Perda. Perda do agora fatal, grandiosa, irrecuperável.
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,morre-o-dramaturgo-augusto-boal-aos-78-anos,364441,0.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário