O Parque Dom Pedro II – em dois mil e nove
Eu descendo de um ônibus naqueles alis da cidade de São Paulo, num domingo à tarde.
As ruas são sujas, encardidas, o lixo, as barracas de CDs piratas, as de frutas, as de balinhas e doces, as de isso, as de aquilo, as que se fodam, as que não se fodem, as de etc.; e por aí os vais dos vãos mesmo. Um mercado de coisas e coisas, cinzento, uma espécie de barriga cheia de pereba do capitalismo, às mostras, às moscas.
Aliás, aí estão criaturas felizes e felizes com essa parte da cidade, principalmente com ela. E penso que sejam moscas do tempo do império, moscas que por certo rondaram os Dons dos Pedros e os Pedros e os mais, e hoje cansadas e horrendas de tão velhas e decadentes, sujas, vivem zanzando naqueles aléns de ruas de lá.
Essa cidade é bonita, é bonita, mas assim, no descaso, no destrato, partes como essas mais parecem uma pessoa abandonada na sorte, sem o de vestir, sem o de viver pra si, em si. Com dignidade. E olha, pra quem não sabe, o Parque Dom Pedro, está há um passo de onde tudo começou nesta cidade de São Paulo. É uma pena.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário