O ator martelinho de ouro
Pois é, pois, passei esses dias por Campinas, em tempo contado nos dedos, porque dezembro já gritava pelas bordas do seu trigésimo dia, e eu que manco do coração ainda ando – digo, sozinho, sem par nem ímpar pra fazer de seu, bola de meia e unha de roer – precisava me aprumar rápido pra capital e ver o onde me caberia nalguma ceia de ano novo, porque de comida gosto e ainda há espaço pra engorda... Oh, céus, oh, dias, que são esses de se empanturrar em mesas e pratos! Desta feita, antes que me arrumasse de volta a São Paulo, o tão Nic Nilson, amigo de datas outras, me convidou pra tomar uma cerveja no Joel, o Barbosa, somente tão isto me disse: “pra uma cerveja”; mais nada. Também nada perguntei, porque barco à deriva, obviamente, não escolhe porto nem segurança.
Há tempos conheço um ator, que nas horas vagas é dono de uma oficina daquelas “tipo” martelinho de ouro, saca? E noutras horas vagas é ator, e assim caminha a sua humanidade... Sim, digo, “sua humanidade”, porque o meu amigo funileiro/ator, ou ator/funileiro é uma rara pessoa. Rara. Em todos os sentidos. Pasme, caro leitor, pasme, porque de quatro estou, e até de oito, de comoção com isso. Fui a uma reunião festiva na tal e qual funilaria, nos fundo da casa desse ator, e os convidados, além de alguns seus colegas da oficina, eram tão somente músicos, cantores, escritores e produtores... Uma festa!
Poderão muitos nem achar a menor graça ou curiosidade nisso, por estarmos no Brasil, mas o meu digo desse ator/funileiro ou vice versa, é mais minha teimosia em registrador coisas e coisas - que de insólito, nesse país, vivendo pra nós, não parece... - mas no mínimo previsibilidade nisso não há, estou certo desse errado? Se, se não já fica aqui o meu desdito, neste ato.
Essa divisão curiosa do meu amigo, aquele anfitrião da festa ida por mim, é talvez um dilema dos mais cruéis, dos mais mesquinhos e ordinários, a que o artista é obrigado a submeter... Oxe, me desdigo logo e fico por aqui no meu muro lamentado, mas o importante que emoções naquela oficina eu vivi, parafraseando o nosso Peru Rei de natal. Ademais, meu dileto íntimo leitor, sabes muito bem o quanto é pedra de duro a falta de festas, de reuniões desse tipo. Depois, vamos a uma coisa e lá vemos outra... onde está o previsível da vida, meu caro?!
Oh, ninguém imagina o quanto há de tecido e carne numa mesma musculatura, aparentemente frágil, aparentemente esquálida, aparentemente mirrada, ninguém imagina.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
2 comentários:
Pois assim seja a vida, amigo: sem previsao para nascer e findar. Que as surpresas tomem as horas e quero que saiba, esta mesma emoçao que sentiu, eu também tive com tua presença, "cabelindeanjo" meu pequeno grande companheiro. Me sinto um gigante quando estou perto de ti, nao pela tua estatura, mas pela tua amizade, tuas experiencias e teus causos e cronicas q leio sempre. Obrigado por ter passado aqui o teu 2010 primeiro.
Camarada Nic,
Fico mesmo e continuo me emocionando sempre, principalmente com palavras como as suas. Grande e forte abraço daqui!
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