Quem é mais violento?
Uma mãe, cigana, suspeita de usar sua filha (um bebê quase), por viver na condição de pedinte com ela pelas ruas de Jundiaí, foi violentamente apartada (como se aparta animais) da sua pimpolha por dois guardas civis (que nem são uma coisa nem outra de autoridade num município, penso) municipais para que se cumprisse uma ordem da vara não sei de que árvore do poder sei lá das quantas, tudo sob a (des)orientação de uma tal de senhora não sei o quê, presidente de um Conselho fulano de tal dos Direitos num sei de quem e afins. Bom... direitos, direitos, direitos... direitos? Bom, alguém denunciou, acusando aquela mãe de usar a filha pra pedir esmolas. Daí, bem, daí, outro desastre.
Esse pessoal ligado à polícia, coração de polícia, peito de polícia, corpo de polícia, mente de polícia, tudo de poli-cia, foi lá e cumpriu a tal ordem Judicial à força bruta, a quaisquer preços e arrancaram na unha, no tapa, no coice, no berro, no urro, diante de câmeras explicitas de TV, para o mundo ver quando quiser:
- Roda, põe na tela, vai, põe aí na tela, roda o VT, porra! - Este é o sensacionalista aberto pro mundo, escancarado, explícito mostrando a tal da cena na TV...
Depois a reportagem mostrou psicólogas gentilmente estupefatas tentando arrumar, dar soluções ao caso, tipo: por que não levar mãe e filha, conversar, passar um corretivo, deixá-las juntas no tal do abrigo, depois ver como ficam... Assim a separação seria tranqüila, mas que horror isso (esta é uma impressão daqui, de minha lavra, não das psicos). E foram tão assim nada indignadas que até acho que devem pertencer a algum lastro do mesmo poder desastroso... Um pena.
Não que acho que a mãe/cigana, fulana e beltrana seja uma santinha, mas ora, gente de minha terra, de minha vida, agir da forma fartamente, ricamente mostrada pela TV, supera qualquer violência (e muito) familiar. Aí está mais uma vez a prova de que o estado ainda é uma coisa bastante tosca, truculenta, e que sei mais lá de quê de coisas de adjetivos e tais.
E polícia, polícia, polícia, polícia... Bom, como diria a música: polícia para quem precisa de polícia.
Em tempo: parece que a mãe reaveria a filha, depois de uma audiência...
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1534024-5605,00-
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
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