Intervenções humanas – na cidade
Dia desses andei rondando os eixos de um prédio no centro velho de São Paulo, bem próximo do Copan, do Itália, entre outros da estirpe... Precisava chorar, berrar, e pensei que se subisse no topo de um deles com um megafone bem mega, bem fone, bem subido de súbito, em dia de segunda-feira, quando os lás daquelas beiras de ruas e ruelas fervem de gentarada, assim num escândalo bem de loucura incomum, esse povaréu apressado me ouviria, ah, sim. Eu sei, ouviria. Paulistano tem pressa, vive correndo, abestalhado no ensimesmado dos seus consigos, mas quando quebrado o silêncio dos seus esquisitos por um esquisito maior, aí sim todos param e ficam olhando com o cu do olho qualquer que seja a m...
Mas é humano, isso tudo é tremendamente humano, por mais animalesco que seja. E eu creio que a quebra, o inesperado, a surpresa dos eventos que interferem na rotina são capazes de ruir qualquer desejo imediato maior, poderoso...
Mas no contínuo do meu destrambelhar (pra citar e já citando o cantor e compositor Alcides Neves ) de vontade, e posso o dizer em dito furioso de quem conhece cara de espanto de gente de ruas de São Paulo, em canto de ruído cinza de todos os agostos, mesmo se março, ou abril, se ainda for... Bom, verdade, retomando o objeto da minha fala em fios, dos quês e dos quens que conheço no aqui dessa desértica, paulística, vida-flor-de-cimento, outro dia descendo, ou rolando na escada do metrô, na Estação Consolação, no ir manso, maneiro, descuidado, mas com o rabo do olho ligado na fervura dos meus instantâneos neuros, não é que dei de cara, vindo no meu contra e no avesso o ator Camilo Namour (tão nobre, o meu querido amigo ator e tenor dos melhores, dos bons, todavia dos mais desconhecidos não há - por enquanto - e olha que já esteve às oito da noite nas novelas das TVs...) que soltou ali na frente daquele povo gelado do metrô, no cinza daquela arquitetura frigorífica o seu vozeirão dos máximos, de fazer tremer seus pares e quaisquer imitadores ou não de um Pavarotti, muito mais e não menos assim:
- Cacáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa....- aquilo perdurou por muitos segundos fincando no afinco, fazendo com que as escadas rolantes, automáticas, nos seus contrários parassem com as gentes a bordo pra ouvirem o que ouviam em.
Fiquei morto de rubro e envergonhado, mas não pude deixar de manifestar-me, ainda que timidamente. E os olhandos das pessoas, no aquilo do momento, dividindo-se estupefelizes entre o artista que subia e este modesto outro que descia todo do seu sempre envergado, mirrado... Mas desta feita me aprumei em rumo do amigo ator/tenor e lhe agradeci, tenente, sob o seu comando e palmas da platéia em chuva forte, vindo de todos os lados, pra ele, merecido, claro. Súbito show e pronto, aos viventes, de fazer inveja a muitos espetáculos dos ais da vida.
E essa experiência dita com Namour, que me tomou o rumo da crônica, do que seria aquele berrar, outro dia, do que não foi no centro de São Paulo, vai sempre me arrancar dos lugares comuns, com um alerta fundamental: se for berrar publicamente, não deixe que o seu público se sinta um idiota, nunca!
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
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