O boteco, o bar, o estabelecimento, o lugar; um mais parecido com um presépio do coisa, de arrumação dele, algo fora do que nunca vi, desenquadrado, inominável, numa esquininha bem discreta da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo. Passo sempre na porta, por lá, como se passasse por uma galeria de deuses...
O teto lá não se vê, se vê nele coisas deslocadas, paralisadas no ar, esvoaçando num vento quase desértico de ermo, num distante do real dos seus frequentadores... Um não lugar de não coisas espalhadas. Poderia descrever aqui os objetos lá expostos, mas acho tarefa um tanto mesmo inútil. De bagos a cabeças de almas de objetocoisas, da vida desgarradas dos seus usos habituais; sobras, ruínas de mimos e estimas do que um dia foram nos imaginários dos catados da vida, e dos tudo que se move nela.
No resumo: no bar do Barba o colecionador é quem chega, quem passa, quem bebe, quem conversa lá nele de bar a bar, no balcão. Cada qual lá monta o seu assunto no exposto como for que será, define seus objetos, seus disses de consigos; diz-se pra si num em verso íntimo e secreto de sim e de não ou talvez: isto é isso com aquilo ou não; eu sei e pronto se será e se vai ser vou ver. Como é. Como são.
As coisas são quando são pra gente, vendo-as em si, ali ou lá, como forem em nossa frente acontecendo de sendo. Serão de pronto o que querermos no verso ou no reverso do que sido pra ser. E será.
Eu vejo nele o que ninguém verá por mim, vendo. Eu vejo, miro, delineio, moldo, soldo, pego, entre e saio. Eu vejo. E fico.
Vendo sempre que por lá passar. O Bar do Barba.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
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