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4 de jul. de 2011

Mais uma cena de comuns

Fui outro dia comprar um frango assado numa esquina perto de casa; o moço que cuidava daquela TV de cachorro, como muitos dizem dessa máquina, cantarolava, pegava, cortava, girava, escolhia, oferecia e coisa e tal: qual o senhor quer? Sim, o mais tostado, o mais de assim o menos de mais, o ali, o de o lá, o de o cá. Não, quero aquele, ou esse, ou outro lá de baixo, ou... Espera, me dê aquele de jeito já saindo do espeto, bem fácil pra você, vai. Nada, senhor, qualquer um aqui é qualquer. Mandou, eu pego, corto, pico, embrulho, ponho batata, farofa e ao gosto do freguês, embrulho!

E papo de vem e papo de vai, nisso chega uma senhorinha já bem senhora por demais de uns setenta e poucos da vida, tanto no falar de seus trajes, ou mesmo do enrugado dos seus olhos nos vendo ali, juntos. Todos personagens daquela tela de domingo.

Oh, e eu corto aqui, justo, pra aumentar o meu espaço de escrita e demorar mais o leitor em mim, vendo-me neste decifre de devorar franguito em domingo frio de SP - Para estranhos de fora, não se imagina o que é ir à feira em SP num domingo, sem sol, muito vento entrando por todos os cus da gente. Não se imagine. Não se imagina.

Mas volto à cena com dona senhora, o rapaz e os frangos. Imagine-se, então, creia, veja e leia. Do povo para o povo. E só.

Eu gosto de palavra de todo jeito, saída ou não de boca, escrita, calada, sussurrada, seca, torta, molhada, caída, deitada, em pé, subindo, descendo, pela metade, inteira, ruída, carcomida, cingida, não importa, palavra é palavra, e se nela há coisas a mais, tanto melhor. Dito o disso, e digo, da cena posta comigo e eles lá:

- Como vai a senhora?! Tudo bem, Dona Malfada?! - Naquele instante a senhorinha botou voz entre mim e aquele rapaz no pleno do seu disponível:

- Não, Mafalda.

- ... Dona Mafada (risos)

- Ma-fal-da - Sem risos, quase séria, mas não brava, não mesmo, e dando corda àquele enforcador de nomes.

Ela tinha dois botões de olhos bem vivos, pretinhos, piscantes, e do seu sério num querer sem querer rir, não ria, mas nos deixava numa quase dúvida, se queria ou não o rir. Mas certo estou que gostava de nossas atenções, nossos holofotes pra si, curvando nos seus setenta e tantos de idade pra lá disso, acho; vovó, est’aquela, a Mafalda com nenhuma semelhança com outras. Penso, deduzo.

A Malfada, ou Mafada, ou Malfalda. Ou, Mafalda mesmo. Ou, como quiser quem for.

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São Paulo, São Paulo, Brazil

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