Gra-ti-dão - Cacá Mendes
Um
termo muito em voga, atualmente, me deixa mais do que maduro do entendimento do
seu sentido, que, segundo um Aulete (virtual), significa : reconhecimento de ajuda, benefício ou favor recebido, e/ou
característica de quem é grato. E disso, e por aí, vou me lembrando de
casos e casos quantos ingratos a vida vai nos costurando em torno dela. Se hoje
estamos em finalzinho 2017, sitiados entre os horrores das panelas mal batidas,
e os horrores de um governo tampinha de garrafa, talvez seja mais por pura
falta de gratidão do que por outras faltas que forem. Arre!
O
escritor João Antônio, de Osasco, com raízes no Rio e outras paragens
desse mundo, de cima da sua simplicidade e genialidade literária, a cada livro
seu lançado, editado, nos seus agradecimentos jamais se esqueceu de agradecer,
primeiramente, não a Deus, mas a Lima Barreto. Umas das figuras mais genuínas
da literatura brasileira, a quem João Antônio entendia ser o mestre de todos
nós, que sonhamos e pensamos a literatura...
Essa iniciativa de grandeza do escritor de MALAGUETA, PERUS E BACANAÇO
(Civilização Brasileira, 1975), dentre outros sucessos, era
mais que um agradecimento, era uma tentativa de reparar um pouco o que as
elites mesquinhas brasileiras faz: tenta espezinhar, esconder, massacrar,
degolar, e dizimar a arte daqueles que não estão “autorizados” pela mídia das
elites da casa-grande, a pisar os seus tapetes vermelhos das vaidades.
Portanto,
a palavra gratidão que quase se “desgasta”, “se suicida” de tanto uso e reuso
por aí, que virou palavra-chave na maior parte dos “diálogos” internéticos .
Uma # (hashtag) dela encheria caminhões
e caminhões de “textos” virtuais... Agora, na prática, poucos, bem poucos “gratificados”
se dariam ao trabalho de realmente fazerem jus ao termo, ao gesto, ao carinho,
à retribuição, ou ao sei lá qual for o benefício recebido, em questão que fosse...
Digo,
escrevo disso, porque a minha muita amiga Risomar, também de Osasco, me chamou
atenção dia desses para essa história dos tantos ingratos que ora ou outra
vamos trombando por aí. E isso foi num dos por acasos cafés da tarde, quando
falávamos sobre o seu tempo de jornalismo no extinto jornal “Diário de Osasco”,
que vez ou outra recebia pelos Correios um exemplar , bastante exemplar mesmo,
um novo livro, autografado, do escritor João Antônio, por ele mesmo... Onde, numa dessas conversas, que tomei
conhecimento dessa turra desse autor osasquense em desesquecer o que devia ser
mesmo inesquecível.
E,
para as conclusões do que não se conclui, digo e redigo, o sujeito, se de
barriga vazia, se necessitado, será sempre um ser grato, humilde, prestativo, e
à disposição do que se for e vier a ser; caso contrário, nas horas mais cheias
do seu prato, de matar todas as fomes juntas, do seu esfomeado ser, nunca saberemos
se ele fará valer mesmo o gesto, a
atitude daquele que se esbalda na defesa do uso do termo gra-ti-dão, ou se vai
apenas ficar na casa dessa onda, fingindo de ser.
O
grato. E por estar vivo e firme. Com um
2018 mais humano, e pleno de boas e sinceras amizades. Beijos, que fui.
Um comentário:
Que crônica maravilhosa! Tanto na forma como no conteúdo.
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