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5 de mai. de 2008

A ilusão da ilusão


O registro do tempo na memória é uma ilusão interessante, muito mais que o registro do tempo dentro de um filme. Está certo que dentro do filme esse registro pode ser observado por outras pessoas, e aí de certa forma passa a ser algo indelével, mesmo só existindo dentro do filme quando exibido em particular a cada expectador. Enquanto que na memória, de tempos em tempos, registros são substituídos ou simplesmente arquivados em local inatingível por nosso controle. O que chamamos tão somente de esquecimento, ou no caso de nosso afastamento do convívio humano, denominado morte, esse registro estará definitivamente inacessível. Para sempre.

Eu fico, por exemplo, pensando em torno de um filme que vi outro dia, cujo roteiro, contava uma história passada em outro momento, condensando grande parte da vida do protagonista dentro de uma hora e pouco do meu tempo real. Por persuasão de todos os artifícios, aliados à verossimilhança dessa arte fílmica apresentada, me conduzindo por um túnel temporal que me fez crer ser esse tempo o mesmo tempo em que eu vivia (será que dá pra me entender? pergunto, delicadamente, aos olhos que lêem). Não quero dizer o nome do filme por achar que não é este o caso, e sim perscrutar sobre o tempo em vida e fora dela. Porque o tempo registrado mecanicamente é uma referência cabal para nos iludir diante do outro tempo que é real, materializável, palpável e finito.

Assim, a ilusão do cinema passa a ter importância redobrada, tornando esse registro acessível a todos, enquanto viver por aqui o último membro da espécie humana.



Fora da órbita

Quem não viu ainda vale a pena ver Zona do crime (La Zona, México, 2007) do diretor Rodrigo Plá, roteirizado por ele e Laura Santullo. Filme no mínimo perturbador, se visto e pensado por quem tem sensibilidade e consegue ver além dos muros que nos separam.

Em cartaz no Espaço Unibanco de Cinema. Visto e debatido por mim e mais três amigos, que juntos em um cineclube interino (chamemos assim a ação) dissecamos grande parte do olhar dessa câmera, se é que é possível fazê-lo em menos de três horas de conversa. Filme sobre dois mundos em guerra cruel e apenas, tão somente, um fio de esperança.

Detalhe: não deve ficar muito em cartaz, e tomara que os cineclubes desse Brasil afora consigam liberar os direitos de exibição e o programem.

P.S.: inicia- se hoje , dia 5 de maio, no Cineclube Baixa Augusta a Mostra Sílvio Tendler, sempre aos domingos e segundas-feiras do mês de maio. Maiores informações: (11) 3214 3906.





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São Paulo, São Paulo, Brazil

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