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11 de mai. de 2008

Mundo animal

Há tantos assuntos que a gente quase se perde nesse palheiro procurando agulha... Entre as dúvidas todas e um ou outro dilema, esta semana optei por assuntos, digamos, bem menos urgentes do que a vida espera dos meus dedos já um pouco gastos pelas teclas do meu piano.
Vamos às músicas dos assuntos.

Vi pela televisão, notícia fechando um jornal a respeito de um “Chico”, que não é gente e nem rio, mas galo cantador. E Chico virou notícia e uma espécie de celebridade em uma cidade do interior da Bahia, tudo porque o vizinho do seu dono anda incomodado com o seu canto nas madrugadas de Cruz das Almas (a terra de Chico, se não me engano)... Imediatamente lembrei-me de João Cabral de Melo Neto com o seu ”Tecendo o Amanhã”:

“Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.”

(O que agora interrompe o sentido da obra genial desse escritor maior da nossa língua, correndo risco d’alguma autoridade das letras desconsiderar o poema por causa do ato impensado do seu colega do judiciário).

A justiça acionada deu razão ao incomodado com o canto do galo, o que imediatamente obrigou o dono dele a amordaçá-lo. O absurdo chegou ao ponto desse animal agora usar espécie de mordaça feita com goma de câmera de ar de pneu (o que não achei de todo mal, porque assim, a natureza perde de um lado e ganha de outro) Chico fica triste, cabisbaixo, mas contribui para não destruir o planeta, reciclando esse material.

A história desse Chico me lembrou de uma outra de um galo do meu pai, que atende pela alcunha de Burrinho. Um nome inapropriado já que esse bicho está mais para dinossauro (apesar do seu tamanho) do que para o mundo dos cavalos, propriamente dito. Da diferença cerebral entre um e outro não vou discorrer, deixarei questão aos entendidos, mas penso que cada um possui lá as suas capacidades adequadas às suas necessidades de seres vivos. O que nesse mundo já não é pouco, não é?

A verdade é que enquanto aquele galo da Bahia canta de forma espontânea, o de Minas, o do meu pai, só canta quando lhe solicitam. Mais sorte ainda porque o Burrinho vive em local ermo e bem que poderia cantar quando lhe desse na telha, mas não, só canta quando o velho lhe pede: “canta, Burrinho, canta!”; aí, o bichinho abre o bico e solta a voz.

É uma contradição intrigante, dois animais da mesma espécie em duas regiões distintas: um só cala com mordaça, o outro só canta quando lhe pedem.

P.S.: o nosso (digo, do meu pai) Burrinho só atende o pedido para sua cantoria porque é tratado com mimo e milho na mão, caso contrário não atenderia mesmo os “pedidos”, exceto se lhe ameaçassem com alguma mordaça às avessas... O que nem sei se dá pra ser, mas como a Força é sempre Força, daí tudo é possível.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cacá

Que crônica linda. Fico triste ao saber de uma galo que não pode cantar. Logo um galo,Cacá? aquele que cantou três vezes para anunciar a traição de Pedro a Jesus? Ninguém pode impedir o canto de um galo; senão como se tece a manhã?
Sugiro que se leve o galo da Bahia para o dono do galo de Minas.E o de Minas para a Bahia. Assim tudo se ajeita e todos serão felizes.

Risomar

Anônimo disse...

Mundo animal!

Cacá não fique se intrigando pela contradição (intrigante) de dois animais da mesma espécie em regiões distintas agirem de forma tão diferenciada...
Basta abir os olhos – não digo nem olhar dos lados – para ver isso com outro mundo animal... estes animais da espécie humana... da qual me classifico também...
Não vou descrever aqui das contradições desta ultima espécie, iria acabar os caracteres e nem chagaria na metade da metade...mas somos bem parecidos com o Chico e Burrico (que de burrico não tem nada), quando uns se calam so com mordaça outros so se manifestam quando bem recompensados... é o mundo animal...
Beijos e sempre te gostando
Luisa

São Paulo, São Paulo, Brazil

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