Um amigo, autoridade das letras tantas, me escreveu outro dia - não como procurador da poesia que eu sei, reclamando das minhas incursões na crônica, chamando-me de traidor pra cima e outras coisitas.
Sem graça do aumentado dos fatos que me perdem num porto de idéias, de muitos tantos navios que são pra se olhar no chegar e no sair, foi que resolvi dar o troco, antes que o tempo fizesse embolorar minha pronta réplica na boca, há dias! Oh! Assim vou entregando ao amigo douto o caso por encerrado, a cada palmo de dedo andado, nesse piano-teclado que de música só faz mesmo a palavra.
(Douto pra lá, douto pra cá...)
Como ameacei, e ia mesmo dizendo lá em cima, realmente, saio às vezes fora desse matrimônio, saio... Devo confessar que, todavia, porém, mas, no entanto, a outra (a crônica) tem me feito perder o juízo visto que me lembra a primeira (a poesia) e nunca se importa mesmo com a prolixidade da minha discurseira. E não precisa nem ser mentira o que escrevo nela, pode ser verdade com mentira, tão somente, nada mais que isso, qualquer coisa disso, por aí, assim, assado, cozido e pronto. Crônica é uma mulher que tem uns caprichos sim, mas não tem a complexidade nem o vulto assustador da poesia.
Assim foi que acabei dando bola para a vizinha de cerca. Por ser mulher, digamos, mais dada a conversas e tagarelices, que às vezes a outra até torce o nariz só de ouvi-la! E eu, mais conversador que ando comigo, fui me apegando a esta danada da crônica e até entendendo que a outra, a poesia, haveria de nos compreender.
O que sendo não ser literatura, não posso me furtar do amor que fui pegando por essa vizinha, que vez ou outra tem me alimentado por cima (de banda, por baixo também) da cerca, me adulando com biscoitinhos (uns que nunca fabriquei mais finos), docinhos. Coisas miúdas, mas que aos poucos me deixaram à vontade, e como um felino (daqueles bem colarinho de palhaço) tenho deitado e rolado por ali, naquelas pernas cada vez mais roliças e alongadas de fatos. Ah, delícia de mulher! (que me perdoe a outra).
Esse amor, interino enquanto dura, vai ficando, ficando, ficando... Essa coisa de conduta do ir e vir, lá, nem temos a cerca mais, quebramos tudo e o quintal agora é único! Vira e mexe, e mexe mesmo e vira, uma vai na casa da outra e assim, de vez em quando até deitamos os três juntos, numa boa. E se o amigo agora me acusa, eu digo logo: estamos os três, sem feridos nem mortos e nem vencidos, cansados ou des todos vivos, felizes para o sempre improvisado do nosso eterno possível.
Em tempo: dessa forma peço ao meu estimado amigo douto, que sei não sê-lo o missivista de plantão, mas amigo que tem me sido desde os tempos outros dos anos oitenta em diante, bem que poderia acalmar a poesia e dizer-lhe, por exemplo, que acabei de inaugurar, em conjunto com o músico Edson Tobinaga, a dupla " OS CONVERSADORES" para deleite exclusivo dela, ser dita em voz alta, acompanhada pelo violão em mãos hábeis do mencionado artista em tudo que for palco dessa vida! E será bem dita em voz e alta pra todos ouvirem melhor do que um modesto blogs perdido num computador de alguém que nem sei se lê ou não a notícia meio-mentira e meio-verdade d'uma vizinha-crônica!.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 5 anos
2 comentários:
Gratíssimo pela parte que me toca (gratia plena)!
...e toca aqui!
toca acolá
pra sair da toca
e tocar em frente
por onde s'enveredar
Meu zelo!
Papaii (amo sua croniicas ; parabéns (vc é o mãxiimo ; ORGULHO de vc ! :D
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