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12 de abr. de 2010

Os dons dos doidos e outros malucos babões



Outro dia recebi um recado de um amigo lá de Poços de Caldas, daquelas encostas de Minas e Gerais, bem no meu rumo esquerdo do peito. Dor não doeu mais por não ter mais espaço profundo de mim pro fato. E ando torto das idéias até hoje, depois de uma semana, aborrecido, ensimesmadíssimo comigo dos pés às nuvens de pensar, tanto nos ossos como nos ofícios de viver que vivo. Eu conto, e já, em dedos de mão e de pé, cruzados de um jeito que só eu e mais eu imagina no juramento: dos confins do sagrado à enrugada superfície da terra em flor...

Olha, observa, veja, mira, força, apalpa, aperta, vivo estou e vivo continuo por aqui enquanto lês esta minha última de agora. Verdade amigo/a que a notícia (boa não é) vinda diz do flagelo de um amigo de infância, um apaixonado por literatura, solteiro, livre de compromissos, sozinho e soberbo de sua brava solteirice deu de sofrer e até ameaçar a si com martelo, prego, cruz e até se dizendo Jesus... (Rima em prosa é forçar a rosa, mas que posso fazer com a musa se jogando sem roupa pro meu abuso?!Pra viver de literatura e música, sou porca e parafuso. É foda.). Graça, penso que não deva haver nisso por saber que desgraça dos outros na gente pega também, basta um cochilo. E o caso, o fato do amigo em crise é por uma moça que nunca existiu, exceto na cabeça de um bruxo do século XIX do Rio de Janeiro, chamado Joaquim Maria Machado de Assis, que atendia muito mais por Machado de Assis.

Eu acredito nisso, piamente, porque não tem nem uma década direito uns caras sérios aí, autoridades das letras, nomados renomes, chegaram até montar um tribunal pra julgar se a tal da moça da cabeça do bruxo, seria ou não adúltera... Gente tida como das mais sérias, envolvendo até juízes e tais da nossa nem sempre justa justiça. E agora me chega essa deitada lábia de fato do dito, que anda doido, internado com força em camisa que ninguém pode desatar. A mim, manda dizer a família, se posso dar um pulo (como se eu fosse um gigante e chegasse a Minas assim num soprinho de perna) lá pra tentar dissuadir meu amigo fulano beltrano, sicrano de tal para que tome os pés do juízo novamente pro chão e volte pra todos nós da terra.

Dizem que ele não larga a menina Capitolina um sequer minuto, se for, pra nada neste mundo. Anda de um lado pro outro com o livro na mão, feito adepto celerado de igreja quando se vicia em récita de bíblia, assim no digo que escrevo, fidedignamente aos pés das letras:

- Menina, minha Capitu, minha querida, amada, oh, amada, Capitu, oh, vejam todos o seu olhar tão puro, oh, minha meiga, encantada criatura, oh amada. Aqui me posto como um cão para ser o seu fiel servidor. Leva-me, porque ainda sou teu, criatura! Oh, minha flor azul, perpétua pétala do meu Éden eterno, paixão sem fim. Quem disse que você não me existe em mim?! Oh, tiro meus cabelos sem tintas do tempo para que meu crânio seja limpo e possa ser teu cálice de vida em flor. Beba-me, eu sou teu corpo, tua alma, tua voz. Este livro?! Sabe, o que farei com ele?! Oh, rasgo, boto fogo, oh, porque ele é nada e você tudo, tudo pra mim, criatura.

Se vou a Poços? Irei, afinal, de culpa da cabeça por mais um doido por Capitu não vou ficar! Me aguardem, se for que irei mesmo, na próxima semana estarei de volta e conto tudo aqui. Quanto ao “diálogo” do aí de cima sem eixo, me veio em imagens de vídeo, em mensagem eletrônica, feita pelos próprios familiares; claro, de forma discreta, oculta, sem que ele soubesse do seu novo ofício de ator. Eu fui. Se for.





Fora de órbita
O Governador do Rio de Janeiro, Sr. Sérgio Cabral, disse no calor da tragédia das chuvas naquele estado, que no mais ou menos é assim, abro aspas: que pobre mora em morro sabendo do risco, e que não deveria fazê-lo! Fecho aspas.

Deve ser o calor da tragédia que o faz pensar assim, o desespero, sei lá... Acho que já deve ter refletido direito e entendido que pobre não o é por vício, por desejo doido de o ser; pobre não sobe morro e constrói casas lá pra se iludir que o isso é subir na vida, não mesmo, Senhor.

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São Paulo, São Paulo, Brazil

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