E assim fomos naquela noite com Paulo Moura
Em meados dos anos oitenta, sem me saber qual ano no exato, muito estive encantado por uma moça que me levou no bico para uma cama, quando eu ainda dava por mim pensando em coisas de amizades e afins de flores e outras, e longe eu nem sabia o que seria com ela, um deitar e rolar por adentros de noites e versos que fossem... E não é que na manhã seguinte, ela me faria um beijo, em sopro, sob sons de Paulo Moura - um que conheceria ali no fogo do pós-amor de uma madrugada em ressaca feliz da moça comigo - e eu num por onde, desandando nesse sem fim das felicidades mais que humanas das vezes que fui!
Ô, eu sou um sempre lesado nisso de querer um ser na outra pessoa, quando ela quer outro ser, e assim me passo por bobo, pato, marreco sei lá o quê!
- Amigos ou amigos?! - Eis que nesse caso de mulher versos/prosa e homem, sob o som de Paulo Moura (um vinil que ele gravara com Clara Sverner, oh!...), somente a descobri quedada por mim, como este isso que aqui transcrevo, num raro momento de tropeço com a cuja num dia de filme daqueles dos anos oitenta no extinto Cineclube Oscarito, bem no miolo de uma Praça Roosevelt de daqueles tempos...
Topando com ela vindo do toalete, tropeçamo-nos e não sei o quê de repente do estar e estar lá eu fui nos seus lábios e os mordi saliva por saliva de delícia...Uuuu, ah! Um acaso que a vida livre de preconceitos nos preparara entre uma coxa e outra de uma sessão de filmes... Opa, fomos, depois por muito e muito tempo quatro pernas bambas e felizes de tantas noites que não guardei nas costas. Depois me perdi da tal da trilha de Moura e Sverner, e os assim de vez ou outra os ouvia... Todavia, nunca mais com o sabor daquela noite, que pra mim não era a primeira vez com uma mulher, mas o era com Paulo Moura (e com Clara)
Paulo outro dia foi-se num verso de repente, assim como se vai de um nada para outro zero... Oh, coincidência esta me fez na lembrança o tempo voltar lá, naquele lhe de casa de alguma rua de Pinheiros, talvez; não estou seguro na geografia rasa e passageira desse amor que nem meu foi no, ora, trilhado por mim, a moça da questão em caso, Clara, a Sverner e Paulo, um Moura no maior da música. E foi.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
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