Pra não dizer que não falei de Nelson, bem breve, claro
No ônibus havia pouca gente, bastante de um monte de pouco mesmo; um mirrado de gente em meia dúzia (isto dez e pouco da manhã, porque se fosse antes das nove o babado seria outro de gente pelos canos e ladrões de cheio, arre!), um motorista e uma cobradora... E que cobradora, meu Deus! Cobra, mocinha, pode me cobrar que eu pago qualquer preço pra ir neste ônibus! Assim eu fiquei sonhando dentro do coletivo nesta segunda-feira feira, 02 de agosto, bastante rajada no céu, sem nenhum sinal de sol e muito trânsito pra chegar em algum ponto da cidade de São Paulo. A cobradora em questão, que me fez, por segundos em vida de doido sonhar berrando em silêncio profundo, bela, bonita é pouco; pensei: moça, teu lugar devia ser na televisão, nas passarelas, sei lá... Essa mania da gente achar que pobre não possui o direito de ser bonito, e que isso é somente privilégio dos granados de bolso, ora! E que somente aquela beleza da TV está autorizada a ser admirada, amada.
Bom, não vou me alongar, porque isso não é caso de me desfazer do casamento em sonho que tenho na cabeça por uma moça, que de breve, muito recente, vem me abalando o ninho de piolhos que nunca tive, ora! Assim, deixo a cobradora, e seu motorista. Ah, que inveja, e verdade que vontade me deu de arrancá-lo dali, do seu posto de chofer (isto, assim, bem no antigo dos termos!) e naquele ofício passar a me pertencer, ainda que somente tenha dirigido um fusquinha meia-meia, naqueles idos de 1997, quando, lá em Minas, meu mano (ido há pouco para um além daqui) me deixava dirigir. Ainda bem que motorista de ônibus não é besta, mesmo quando se faz.
Pronto, sem assunto, já não morro hoje, sem deixar palavra aos meus 5 ou 6 leitores. Bai-bai. Ou. Boi-boi.
Moacyr Scliar: Ciumento de carteirinha
Há 4 anos
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