Páginas

6 de set. de 2014

Os Mayas - em 24 pedras

O sol de domingo é o melhor sol do mundo, e nele me deito e me rolo de rir ou de chorar. Isso se for pra ser.  Assim que num domingo de outro dia, deste mês de agosto passado agorinha, dia dos pais, fui à Oca, no Ibirapuera, ver a exposição dos Mayas...
Um Parque quase ermo... Desci a Sena Madureira a pé (em direção a ele), levando uma garrafinha de água, para o caso de alguma sede previsível. E como não precisa ser nenhum sábio, água em dia de calor é mais que bem-vinda para se matar a sede e, também no caso de haver algum principio de incêndio, pois nunca se sabe... De repente o bombeiro pode demorar, daí nossa chance de  nos  tornarmos  um herói. Ops, isso aqui era para falar dos Mayas e, já estou me desandando por outro caminho. Voltemos ao início. Na porta. En la puerta.
Como era um domingo com pouco público, lá cheguei e fui entrando... Ops, de repente alguém falou:
- Não pode entrar com a garrafa!
- Sim, tá bom... Eu disse.
Fiquei procurando um jeito de preservar a garrafinha de água para a volta, na saída, mas não aparecia nenhuma ideia brilhante... Nisso, outros monitores, guardas e afins, uns 5 ou 6 e outros mil, talvez, quase todos em coro único dissonante, também insistiram, num berro: 
 - A garrafinha... Não pode entrar!!! E desta vez, aquilo me pareceu muito rude, ou enérgico, mesmo. Bem, não sei a diferença, mas era algo assim bem chato de se ouvir.
Eu revidei, não na moeda dessa altura da minha referida menção, mas revidei. Dei no olho deles, dos famintos lobos daquela portaria quase desértica de um domingo de dia dos pais... Na ausência de carneiros, lobos devoram grilos.
Assim, como já disse acima, vomitei:
- A garrafinha não contém explosivos! É água! Não precisam me falar mais, já sei, já sei, não posso entrar com água na exposição dos Mayas!
Lá se ia a minha chance ou perspectiva de virar herói no caso de algum princípio de incêndio. Sem água, nessa secura imensa de uma São Paulo do mês de agosto não daria, ainda que fosse por uma hora e pouco... 
Voltando para o interior. Ou iniciando o percurso: de 600 a 900 anos D. C., lá desci ao túmulo do sem fim daquela história mega, faraônica, mística e plena. E pensei: aqueles caras podem ter dado aula à Shakespeare, talvez; e, também, devem ter exportado máscaras para a invenção do Teatro Nô (japonês), não sei. Claro, isso milanos (junto assim mesmo) depois, por aí...
Mas, brincadeiras à parte, eu mergulhei naquele profundo, e vi maravilhas, terras longes, ermas, povoadas; vi mares, ilhas, governos e desgovernos, astros, deuses, ritos e... Cacos de uma civilização inteira, cujas marcas indeléveis, em pedras, perpetuam sabedoria e tecnologia, avançadíssimas para um tempo do sem fim, um tempo sem medidas... Talvez, ali, a morte, mais que a vida, esteja muito mais representada, por ser esta um rito de passagem para um nada (ou tudo) muito, muito além das compreensões (ou das aceitações).
As diversas faces de uma civilização, em detalhes nas sobras de esculturas e/ou arquiteturas, ou as próprias máscaras, são representações grandiosas que nos tocam a alma e o espírito, ou o insondável, intocável. Seriam aquelas peças o “cinema” daquela gente, que ao seu modo vasculhavam os longínquos dos tais mistérios acerca da morte, para perpetuar a vida? Se o cinema, no seu estado em que o conhecemos é uma imitação quase perfeita da vida, para nos deixar vivos (postos num tempo), para os Mayas, suas grafias muito provavelmente são representações para os perpetuar (e perpetuou) num sem fim da vida. Na terra e no espírito humano. Enquanto houver  essa espécie que denominamos homem.
Voltando ao cimo da saída daquela exposição, sedento que estava da minha garrafinha de água... Não, não havia mais garrafinha de água e nem ao menos um local onde se pudesse obter uma. Enfim, a sede e a água: um estado e uma coisa, da vida. Apenas isso.
Mas o forte, o indelével, o cortante, o fundo, o ensimesmado de mim, era o que era daquele mais que um quê de um turbilhão de lembranças das nossas próprias ruínas, ali, naquele subsolo da Oca, em pedaços de pedra, que juntos, como numa fita, formam imagens que formam um filme, um filme que fica repetindo na nossa cabeça, como o eco de um grito ensurdecedor... Apenas isso. Mais nada. 



Nenhum comentário:

São Paulo, São Paulo, Brazil

Seguidores

Visitas